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Quadro I- Principais complexos vulcânicos da ilha da Madeira e respetivas unidades estratigráficas (adaptado de Brum da Silveira et al., 2010).

Fig. 2. Carta Geológica da ilha da Madeira (Folha A) na escala 1:50.000 (BRUM DA SILVEIRA et al., 2010).

Fig. 3. Carta Geológica da ilha da Madeira (Folhas B) na escala 1:50.000 (BRUM DA SILVEIRA et al., 2010).

Vulcano-estratigrafia da ilha da Madeira

O arquipélago da Madeira teve a sua génese na Era Cenozóica, com as primeiras erupções a ocorrerem no Miocénico (fig.1) e as derradeiras no início do Quaternário (Gomes & Silva, 1997).

 

A Madeira, as Desertas e o Porto Santo integram, o mesmo maciço vulcânico que se divide em duas massas rochosas emersas: as duas primeiras, outrora unidas por intermédio da região mais oriental da Madeira – a Ponta de S. Lourenço –, formam uma das massas; a terceira, anteriormente uma ilha mais imponente – como se pode deduzir pela existência de níveis batimétricos de magnitude reduzida, numa área considerável em redor da ilha –, corporiza a outra (Pena & Cabral, 1997). Segundo Mata (1996), a Madeira e as Desertas estão unidas pela isóbata dos 200 metros, apresentando ambas grande afinidade vulcanológica. Por seu turno, o Porto Santo, está separado da Madeira por um canal que atinge a profundidade de 2500 m, sem esquecer o facto de apresentar vulcanismo submarino significativo e litologias vulcânicas mais diferenciadas, com relevância para os vulcanitos ácidos (Ferreira, 1985, in Mata, 1996).

 

Litologicamente, a Madeira é constituída essencialmente por vulcanitos efusivos e piroclásticos, predominando os primeiros em relação aos segundos, com evidência de rochas granulares (ou plutónicas) na região de Porto da Cruz e litologias sedimentares esparsamente localizadas ao longo da região costeira, como por exemplo aluviões fluviais – geralmente grosseiros e torrenciais –, terraços fluviais e praias levantadas – essencialmente cascalheiras torrenciais –, depósitos de praia modernos – normalmente de calhaus rolados –, zonas dunares – de idade Plistocénica na Ponta de S. Lourenço – e depósitos de vertente e de fajãs. No que concerne a formações de natureza sedimentar, destaca-se a região de S. Vicente, onde é possível vislumbrar um afloramento de calcário recifal, do Miocénico (Sousa, 2006).

 

Relativamente aos afloramentos mais abundantes, de carácter eruptivo ou magmático, de génese vulcânica e plutónica, é nítida a predominância de rochas básicas – basaltos, basanitos, basanitóides, hawaiitos e mugearitos, gabros, e rochas afins – relativamente às de composição intermédia de tipo traquítico: traquitos, traquibasaltos, traquiandesitos e traquidoleritos (Gomes & Silva, 1997). Galopim de Carvalho (2002) salienta a ocorrência de mugearitos no planalto do Paúl da Serra (especialmente em rede filoneana) e em Porto da Cruz, nas proximidades do cais.

 

Gomes & Silva (1997) defendem que são também de considerar, em termos de abundância, os materiais vulcânicos do tipo piroclástico, especialmente finos, consubstanciados na presença de tufos de coloração avermelhada, acastanhada, amarelada ou acinzentada, aparelhos vulcânicos parcialmente desmantelados, cones de escórias e materiais piroclásticos mais grosseiros, como os blocos vulcânicos, as bombas, as brechas e os conglomerados.

 

Carvalho & Brandão (1991) postulam que as rochas lávicas, efusivas, se apresentam quer compactas, quer porosas e vacuolares, representando derrames ou escoadas basálticas de espessuras diferenciadas – em função do tempo de duração dos episódios efusivos e do afastamento ao centro emissor – e inclinações distintas, mais acentuadas nas regiões costeiras periféricas, enquanto as de carácter explosivo ou piroclástico – mais grosseiras, geralmente pouco consolidadas, por vezes brechóides, desde blocos e bombas vulcânicas a cinzas finas, passando por termos intermédios como o lapilli, de aspeto vesicular e esponjoso – se dispõem nas regiões centrais, nas proximidades dos antigos focos explosivos que lhes deram origem.

 

Com base nos trabalhos efetuados no âmbito da Carta Geológica da ilha da Madeira (Folhas A e B) na escala 1:50.000 (BRUM DA SILVEIRA et al., 2010), reconheceram-se três fases principais de construção do grande vulcão escudo da Madeira que se traduzem numa estratigrafia composta por três complexos vulcânicos principais (BRUM DA SILVEIRA et al., 2008). Assim foram identificados, da base para o topo: o Complexo Vulcânico Inferior (CVI) (> 5,57 Ma), o Complexo Vulcânico Intermédio (CVM) (5,57 - 1,8 Ma) e o Complexo Vulcânico Superior (CVS) (1,8 - 0,007 Ma). Cada complexo é composto por várias unidades estratigráficas delimitadas por inconformidades regionais, refletindo descontinuidades na sucessão estratigráfica e estádios distintos na evolução do edifício vulcânico no que respeita a sua relação geométrico-temporal.

 

Deste modo, na porção emersa da ilha da Madeira reconheceram-se sete unidades vulcano-estratigráficas principais. Foram designadas, respetivamente da mais antiga para a mais recente, por: Unidade do Porto da Cruz (CVI1) e Unidade dos Lameiros (CVI2), no Complexo Vulcânico Inferior; Unidade da Encumeada (CVM1), Unidade de Penha d'Águia (CVM2) e Unidade do Curral das Freiras (CVM3) no Complexo Vulcânico Intermédio; Unidade dos Lombos (CVS1) e Unidade do Funchal (CVS2), no Complexo Vulcânico Superior.

 

Para além destas, identificaram-se depósitos sedimentares recentes, tais como: aluviões (a), cascalheiras e areias de praia (cap), depósitos de vertente e coluviões (dv), depósitos de movimentos de massa (dm), depósitos de areias eólicas (ad), depósitos glaciares e periglaciares (dgp) e depósitos de lahar (la).

 

A evolução espacial e temporal da atividade eruptiva na ilha da Madeira foi determinada por vulcanismo fissural ao longo de uma zona de rift vulcânico, que se manifestou inicialmente ao longo de uma direção geral E-W, tendo evoluído posteriormente para um sistema fissural de orientação geral WNW-ESE a NW-SE. As lavas são alcalinas e entre elas predominam os litótipos de carácter pouco diferenciado (basanitos e basaltos alcalinos) estando as rochas intermédias (mugearitos e traquitos) representadas em raros afloramentos (MATA, 1996).

 

O Quadro I descreve, da mais antiga para a mais recente, as unidades representadas na Carta Geológica da ilha da Madeira que materializam o seu registo estratigráfico.

 

Fig. 1. Cronologia dos afloramentos em Porto Santo e Madeira (adaptado de Mata, 1996).

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